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BRAZILIAN JOURNAL OF EMERGENCY MEDICINE VOLUME 03 | NÚMERO 1 / 19-26
INTRODUÇÃO O transporte médico aéreo teve um impacto significativo
na sobrevida de soldados feridos. Na 1ª Guerra Mundial os
O Atendimento Pré-Hospitalar (APH) é tido como aquele tempos de transporte de feridos até uma unidade médica
oferecido por profissionais devidamente treinados e demoravam entre 12 a 18 horas – com sobrevida de 80%
qualificados a uma vítima, em situação de emergência, daqueles que chegavam vivos até o destino. Durante a 2ª
fora do ambiente hospitalar, envolvendo unidades móveis Guerra Mundial, o tempo médio do trauma até o cuidado
e equipes multidisciplinares – durante o qual o paciente médico definitivo era de 6 a 12 horas, com taxa de
é avaliado, estabilizado e transportado a um hospital de mortalidade de 5,8%. Na Guerra da Coreia, o tempo reduziu-
referência. se para 2 a 4 horas, com mortalidade de 2,4%. No Vietnã,
nenhum soldado estava a mais de 35 minutos do cuidado
Tendo em vista a importância do tempo de atendimento médico definitivo e, em geral, a mortalidade era de 2,6%. 4
e transporte a um serviço de referência no desfecho
e prognóstico de pacientes em emergências, sejam Incentivado pela experiência militar, o transporte médico
essas traumáticas ou clínicas, fazem-se importantes a aéreo civil norte americano iniciou em 1969 com um
presença de unidades móveis – terrestres e/ou aéreas - e programa médico de aeronaves de asa-fixa (portanto,
equipes devidamente treinadas e capacitadas a realizar aviões) e patrocinado por hospitais. O primeiro serviço
o atendimento e cuidado de pacientes, de forma segura, médico civil com o uso de helicópteros (HEMS – Helicopter
dentro dessas unidades. Emergency Medical Service) foi estabelecido em 1972. 5
Surge, portanto, no final do século XIX e, com significativas No Brasil, o serviço aeromédico surgiu em 1950 com a
adaptações e evoluções constantes até os dias de hoje, criação do Serviço de Busca e Salvamento na 1ª Zona Aérea,
o Transporte Aeromédico (TAM) e consequentemente o instituída com o objetivo de executar buscas, salvamentos,
resgate aeromédico, integrando-se ao APH e consistindo- localizar aeronaves e embarcações desaparecidas e
se no uso de aeronaves, essas hoje constituindo- se transferir, com segurança, sobreviventes de acidentes.
principalmente de asas fixas (aviões) ou asas rotativas Posteriormente, diversos serviços semelhantes foram
(helicópteros). implementados no país, com intuito de transporte,
como o Corpo de Bombeiros Militares do Rio de Janeiro e
O TAM – de forma semelhante ao APH e medicina de o Projeto Resgate do Estado de São Paulo. Deste modo,
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emergência – tem seu surgimento e história ligado às guerras na década de 90, o serviço de transporte aeromédico
durante a história e, por conta delas principalmente, sofrendo ganhou espaço no contexto nacional corroborado pelo
evoluções e eventualmente sendo aplicado no meio civil. 1 processo de globalização e as necessidades de atendimento
a pacientes críticos em ambientes longínquos e sem
As primeiras descrições do uso do TAM aludem ao ano de alternativa de tratamento de saúde próximo. 7
1980, durante a Guerra Franco- Prussiana quando soldados
lesionados eram transportados por balões de ar quente. 2 Portanto, o uso de aeronaves para realizar o transporte
de pacientes é uma estratégia capaz de vencer o tempo
Foi empregado de forma rudimentar na Primeira Guerra e as barreiras geográficas de acesso ao atendimento. É
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Mundial, ainda sem assistência a bordo, os soldados eram capaz de prover o deslocamento do paciente em estado
transportados em monomotores despressurizados com a crítico, sendo, por diversas vezes, a única opção para que
finalidade de assegurar o atendimento em local seguro e; na o paciente obtenha assistência especializada. 9
segunda guerra mundial, foram instituídas as “ambulâncias
aéreas”, com aeronaves modificadas permitindo o uso Atualmente, o serviço aeromédico no Brasil é regulamentado
de aspiradores, fornecimento de oxigênio, equipamento pela Portaria nº 2048, de 5 de Novembro de 2002, do
para ventilação não invasiva (VNI), macas, medicações e Ministério da Saúde, que aprova o Regulamento Técnico
profissionais de saúde para prestar cuidados. 2 dos Sistemas Estaduais de Urgência e Emergência. Esse
mesmo regulamento considera que aeronaves destinadas
Entretanto, foi somente na Guerra da Coreia que ao serviço aeromédico que, em sua tripulação, contenham
helicópteros – aeronaves de asas rotativas como profissionais da saúde ao menos um médico e um
– passaram a ser utilizadas como formas de transporte enfermeiro, sejam consideradas como ambulâncias tipo
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médico aéreo, contabilizando mais de 20,000 evacuações E – unidades de suporte avançado.
durante o conflito; tendo, essas aeronaves, uma participação Todavia, o transporte aéreo e, de forma semelhante,
ainda maior durante a Guerra do Vietnã – transportando, o resgate aeromédico, apresentam riscos que devem
durante a Operação Dustoff, aproximadamente um milhão ser dominados pelos profissionais de saúde, tais riscos
de feridos das linhas de frente em helicópteros tripulados dependem da gravidade do quadro do doente, do tipo
por médicos, providenciando cuidados em voo. 3 de aeronave, se é pressurizada e climatizada e, também,
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