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BRAZILIAN JOURNAL OF EMERGENCY MEDICINE VOLUME 03 | NÚMERO 1 / 14-18
que indivíduos do sexo feminino representaram mais de Na tabela 2, observa-se a violência relacionada a raça
85% das notificações, com destaque para a faixa etária de e é possível destacar o maior número de notificações
10 a 19 anos de idade. Outrossim, é necessário mencionar representado pela raça parda. Vale mencionar que entre
que as notificações de violência sexual contra a mulher, crianças a questão da raça parda perdura, um estudo feito
além de serem as mais frequentes, crescem de maneira em Manaus evidenciou que de 70% das crianças do sexo
exponencial, apenas no Brasil a prevalência de violência feminino que sofreram violência sexual eram da raça parda,
cometida por “não parceiros” é de 7,6% enquanto a média sendo que dentre elas, a maioria não frequentava a escola .
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mundial se mantém em 7,2%.
“Essas violências trazem consequências físicas, sexuais,
Ademais na tabela 3 demonstra as notificações de violência reprodutivas, psicológicas e comportamentais altamente
sexual por macrorregião do estado do Espírito Santo. Nota- nocivas à saúde e ao bem-estar dos indivíduos envolvidos.
se um aumento contínuo a cada ano, com destaque para Também repercutem na sociedade geral, ocasionando a
a região metropolitana, é importante destacar que o ano transmissão intergeracional da violência e a criminalidade
de 2020, devido à pandemia, sofreu com subnotificações. na adolescência.” . O Procedimento terapêutico nesses
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Nesse sentido, cabe mencionar o fato de que regiões casos de violência é essencial para recuperação física e
metropolitanas tendem a ter uma maior quantidade de emocional da criança ou adolescente, logo, o acolhimento
notificações por violência sexual devido, dentre outros desses pacientes por parte dos profissionais da saúde deve
fatores, uma maior estrutura de denúncias. ser realizado de maneira adequada. Entretanto, essa não é
a realidade encontrada no recebimento desses pacientes,
Nesse contexto, os profissionais da saúde ainda encontram em um estudo realizado em unidades de saúde do Ceará
dificuldades na prática do acolhimento e preenchimento constatou-se que 88,2% dos profissionais de saúde não
dos dados referentes a essas vítimas. Devido ao estigma conhecem nenhuma instituição de apoio a crianças e
social entre relações maritais, os profissionais não averiguam adolescentes vítimas de violência .
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a fundo esse tipo de violência, marginalizando informações
essenciais. As inconsistências no preenchimento de fichas Analisando essas informações é possível reconhecer que
de notificação de abuso sexual e estupro são frequentes. a qualidade mediana da detecção e encaminhamento dos
Segundo o estudo de Girianelli e colegas, os valores de casos gera a necessidade de uma formação continuada
inconsistência por não conformidade, ou seja, informações das equipes da saúde acerca do tema. De fato, por não se
imprecisas que não necessariamente prejudicam a tratar de uma enfermidade que possa ser tratada de acordo
compreensão dos dados, variou de 16,6% a 29,3% . com o modelo biomédico, lidar com casos de violência
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representa um desafio aos profissionais de saúde, exigindo
Além disso foi notado na tabela 4 uma clara subnotificação uma abordagem bem pensada e elaborada.
em relação a negligência contra idosos em território
capixaba, essa questão é corroborada com a teoria de
que parte dos idosos não fazem denúncias pois convivem CONCLUSÃO
com a família e a queixa atrapalharia a convivência. A
Organização Mundial de Saúde entende por maus-tratos O objetivo primordial desse trabalho foi de analisar a
e negligência como uma ação única ou repetida, ou ainda ocorrência de violência interpessoal e autoprovocada no
a ausência de uma ação devida, que causa sofrimento estado do Espírito Santo. Nesse sentido, o estudo identificou
ou angústia, e que ocorre em uma relação em que haja em destaque as morbidades em razão de violência de
expectativa de confiança . Segundo o estudo realizado por natureza sexual, principalmente contra mulheres, além da
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Souza, Freitas e Queiroz, cerca de 32% das denúncias são negligência e abandono de incapazes.
de violência física, enquanto 20% configuram abandono e
13 % negligência. Quanto aos agressores, segundo dados REFERÊNCIAS
do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, a maior parte
dos agressores eram familiares ou vizinhos. 1. Dahlberg LL, Krug EG. Violence: A Global Public Health
Ademais, no Brasil, em 2016, foram registrados cerca de Problem. Informe Mundial sobre Violência e Saúde,
100 mil casos de violência contra crianças e adolescentes . 2006. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/
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Segundo o estudo realizado no Hospital das Clínicas da jGnr6ZsLtwkhvdkrdfhpcdw/abstract/?lang=pt Acesso
Universidade Federal de Pernambuco, relata que o maior em: 16/11/2021
número de registos em notificação por violência se refere 2. Moreira GA, Vasconcelos AA, Marques LA, Vieira LJ.
a um público de até 12 anos, portanto pode-se inferir Instrumentação e conhecimento dos profissionais da
que a população infanto-juvenil é um alvo recorrente da equipe de saúde da família sobre a notificação de
violência . maus-tratos em crianças e adolescentes. 31ª ed. São
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