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BRAZILIAN JOURNAL OF EMERGENCY MEDICINE VOLUME 03 | NÚMERO 1 / 19-26
Ruído e vibrações são os estressores mais comuns Levando em conta o custo elevado de voo se comparado
encontrados no transporte aeromédico e podem interferir ao do transporte terrestre por ambulâncias, os profissionais
com o cuidado do paciente e função de equipamentos médicos devem cuidadosamente avaliar os potenciais
médicos. Proteção auricular deve ser empregada por riscos, benefícios e custos do transporte aéreo médico
todos os tripulantes e pacientes. Exposição prolongada a no contexto de cada paciente individualmente e de cada
extremos de ambiente pode resultar em fadiga, enjoo de situação, incluindo a consideração sobre a logística e
movimento, desorientação, dano auditivo e deterioração características geográficas da região. 19
no desempenho de tarefas. 16
Visto a escassez de estudos investigando potenciais
Estresse agudo pode gerar um estado de agitação psicológica soluções aos problemas de triagem e uso apropriado de
conhecido como “Comportamento de modo autônomo” – aeronaves no transporte médico e, de forma a garantir que
do inglês Autonomous Mode Behaviour (AMB) – também os recursos com o transporte médico aéreo sejam mais bem
conhecida como “visão em túnel”. O tripulante aeromédico utilizados, a AMPA – Air Medical Physician Association –
sob estresse tenderá a focar em somente um problema elaborou uma lista de condições médicas subjetivas para
enquanto ignora outras informações críticas. 16 a seleção de pacientes, dos quais notam-se:
Todo tipo de transporte, seja em solo ou aéreo, sujeitam • A distância até ao serviço de referência mais próximo
os tripulantes e pacientes a vibrações. Mas em particular, é demasiada grande para um transporte terrestre
helicópteros durante o voo são sujeitos a um ambiente seguro e em tempo hábil;
aerodinâmico turbulento e assimétrico, com os rotores
induzindo forças vibratórias altas. Em frequências • A condição clínica do paciente requer que o tempo
específicas, podem ter efeitos prejudiciais no corpo gasto no transporte seja o mais curto possível;
humano, induzindo a contrações musculares, aumento • A condição do paciente é tempo-crítica, necessitando
do consumo de oxigênio e do metabolismo catabólico. 16 tratamento específico ou em tempo hábil não
Outro desafio para o atendimento pré-hospitalar aeromédico disponível no hospital de referência;
é o aumento da dificuldade para manipular, examinar e • O potencial atraso de transporte por via terrestre
tratar o paciente durante o transporte. O barulho excessivo provavelmente deteriorará a condição médica do
dentro da cabine da aeronave impede a comunicação paciente;
por meios convencionais bem como torna o uso de
estetoscópios minimamente eficaz. As vibrações podem • O paciente requer cuidado crítico de suporte de vida
causar malfuncionamento de equipamentos e tornar durante o transporte que não estaria disponível na
pulsos impossíveis de serem palpados. Outros fatores unidade de transporte terrestre (como exemplo, a
também limitam o cuidado com o paciente: espaço de disponibilidade somente de ambulâncias de unidade de
cabine limitado interfere com a manipulação do paciente suporte básico – USB – pelo SAMU, e indisponibilidade
e equipamento; turbulência requer que o paciente e de unidades de suporte avançado – USA);
os tripulantes fiquem presos e seguros; baixo nível de
iluminação na cabine pode dificultar observações clínicas; • O paciente está localizado em área inacessível ao
efeitos da altitude requerem modificação da interpretação tráfego de solo regular impedindo o acesso e saída
de monitores e ventiladores, da operação de aparelhos e de de ambulâncias;
técnicas de cuidados ao paciente. Esses fatores mostram a
importância da estabilização adequada do paciente quando • Unidades de solo presentes não estão disponíveis
ainda em solo para minimizar a necessidade de intervir no para realizar transporte de longa distância;
ar e, consequentemente, diminuir a probabilidade de • O uso da unidade de solo deixaria a área sem
intercorrências. 17 cobertura adequada para transportes de emergência.
SELEÇÃO DE PACIENTES É visto que a maior parte dos atendimentos de emergência
com o uso de helicóptero relacionam-se aos traumas.
Conforme discorre LARA (2006), existe, para um adequado
Muitas questões sobre a triagem de pacientes para uso das aeronaves de asas rotativas nesse tipo de ocorrência,
transporte por solo ou aéreo, a eficácia do cuidado médico um protocolo com seleção de pacientes que provavelmente
no ar e os efeitos precisos do transporte aeromédico na beneficiam-se do uso do helicóptero, avaliado a partir de
morbimortalidade dos pacientes em condições clínicas e um exame clínico adequado e situações operacionais. 18
cirúrgicas permanecem sem resposta. 4
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