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Santos M.W.


         No exame clínico, as características que recomendam o   comercial. Tais características são exemplificadas pela
         uso da aeronave são: escala de trauma < 12; escala de   urgência, imprevisibilidade, necessidade de voos a baixa
         coma de Glasgow < 10; trauma penetrante de pelve, tórax,   altitude, pousos e decolagens em áreas não preparadas e
         pescoço ou crânio; pelve instável; amputação total ou   desconhecidas, pressão autoimposta para o cumprimento
         parcial de extremidades (exceto falanges); fratura bilateral   da missão, participação de terceiros durante a operação,
         de fêmur; lesões de coluna cervical e; grandes queimados –   entre outras, denotando a importância da existência de
         especialmente por inalação e sinais vitais instáveis (pressão   programas e treinamentos específicos com o objetivo de
         arterial sistólica < 90 mmHg, frequência respiratória <   minimizar riscos. 18
         10 ou > 35 incursões por minuto; frequência cardíaca
         maior que 120 batimentos por minuto. Sobre as questões   O risco de um acidente e incidente aeronáutico bem como
         operacionais, recomendam-se o transporte aéreo quando   a segurança do paciente são as principais preocupações
         há: colisão a mais de 32 km/h; queda maior de seis metros;   quando se considera o transporte aeromédico e, em
         morte de um ocupante do veículo; local de difícil acesso;   consequência, o resgate aeromédico.
         tempo de transporte superior a 20 minutos, especialmente   Para garantir imparcialidade, o piloto não deve
         se tráfego de trânsito obstruído. 1                        receber inicialmente informações sobre a condição
         Nota-se que a decisão deve ser tomada em favor do          do paciente ou acuidade. O piloto mantém o direito
         paciente – avaliadas as contraindicações meteorológicas    inquestionável de não aceitar uma missão devido
         e de segurança ao voo. Assim, visto a necessidade do       a considerações da aeronave ou climáticas. Essas
         rápido deslocamento da unidade e a possibilidade de        decisões não devem ser questionadas de qualquer
         um helicóptero estar em voo em aproximadamente dois        forma por administradores, demais tripulantes ou
         minutos após a recepção do chamado de emergência,          terceiros (WALLS, 2018)
         informações além do local e natureza do caso podem e   Nas operações aeromédicas, tratando-se de helicópteros -
         devem ser recebidas durante o voo, minimizando a perda   visto sua versatilidade e possibilidade de realizar decolagens
         de tempo. Portanto, é esperado que haja um percentual de   e aterrissagens em espaços relativamente pequenos sem
         voos desnecessários, inerentes ao sistema de atendimento   necessidade de pistas de pouso – as principais operações
         pré-hospitalar. 18
                                                               realizadas são de resgate aeromédico. Além de permitir a
                                                               assistência no local, a aeronave proporciona a condução
         SEGURANÇA DE VOO                                      ágil e segura até um centro de referência preparado
                                                               para receber o paciente em questão. Porém, regras de
                                                                                               18
         O uso de  aeronaves para  o transporte de pacientes   segurança devem ser seguidas.
         vem crescendo nos últimos anos no Brasil e, de forma
         semelhante, tornando-se mais seguras com a utilização de   Entre as regras gerais de segurança durante a operação com
         técnicas que são aprimoradas e desenvolvidas através da   helicópteros, notam-se algumas de elevada importância
         experiência ao longo dos anos. 18                     para a segurança do indivíduo, equipe, paciente e terceiros:
                                                                  •  Somente aproximar-se e afastar-se do helicóptero
         As ambulâncias aéreas estão cada vez mais sendo utilizadas
         no ambiente pré-hospitalar para realizar intervenções      com o corpo levemente curvado para à frente, na
         avançadas e transportar pacientes críticos ao cuidado      área em que o piloto possa vê-lo, entre as 9 e 3 horas
         definitivo mais rapidamente. Entretanto, a decisão para    da aeronave (considerando-se o nariz a 12 horas e
         solicitar um helicóptero médico é complexa devido a        a cauda a 6 horas em um relógio), nunca indo em
         considerações de segurança durante o voo e ao custo de     direção ao rotor de cauda. O rotor de cauda é a
         voo se comparado a ambulâncias terrestres. 19              parte mais perigosa da aeronave, pois está localizado
                                                                    a baixa altura na maioria dos modelos, e, quando
         A segurança deve ser a consideração dominante ao           acionado, é praticamente invisível devido à sua alta
         pesar riscos e benefícios do transporte aeromédico e os    rotação, elevando o risco de trauma acidental;
         profissionais médicos devem, bem como os pilotos e
         demais tripulantes, ser proficientes em operações de rotina   •  Segurar objetos na altura da cintura, jamais na
         e emergência dentro e ao redor da aeronave. 4              vertical ou acima da altura dos ombros – qualquer
                                                                    objeto elevado pode ser atingido pelas pás do rotor
         Mesmo com toda a confiabilidade, normas e regras presentes   principal, com cuidado dobrado para o uso de macas
         na aviação, o risco de acidentes e incidentes aeronáuticos   portáteis e suportes de soro, esses últimos devendo
         existe, particularmente nas operações aeromédicas, uma     ser mantidos abaixo da altura dos ombros;
         vez que características peculiares a essas missões as diferem
         das demais operações da aviação geral civil, executiva ou




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