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Bezerra B.R. et al.
mais rápida. Os CE podem ser deixados no local quando CONCLUSÃO
os riscos de remoção superam os benefícios. 1
A relevância do uso do ultrassom na detecção e remoção
Dentre as lesões traumáticas, o risco de infecção é maior de corpos estranhos em partes moles depende da natureza,
em pacientes idosos, principalmente naqueles com da localização do corpo estranho e da experiência do
diabetes, assim como em feridas maiores e mais profundas, operador e da sensibilidade e especificidade das técnicas
com contaminação visível e com CE. O potencial para utilizadas. Quanto a natureza do CE, vários estudos
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complicações devido CE retido é mais evidente na mão, experimentais comparando diferentes modalidades de
onde há numerosas estruturas próximas as outras e que exames de imagem evidenciaram que o ultrassom é a
necessitam de sua integridade para função normal. 8
melhor modalidade capaz de detectar materiais não
A remoção do CE pode ser tentada inicialmente por radiopacos. Portanto, o ultrassom se mostrou ser uma
exploração superficial e irrigação da ferida, o que pode ferramenta importante na abordagem inicial de corpos
ser facilmente realizado na emergência. A ultrassonografia estranhos retidos em partes moles, podendo ser utilizado na
provém visualização em tempo real, sendo particularmente prática do médico emergencista para detecção e remoção
útil durante uma dissecação profunda, visto que o objeto dos CE com menor custo, mais facilidade e segurança para
pode se deslocar durante a exploração da ferida. 15 o paciente. A maioria dos trabalhos que existem acerca do
assunto estudaram o uso de ultrassonografia tradicional, o
Vários métodos foram descritos para remoção guiada por que nos deve instigar sobre a necessidade de mais estudos
ultrassom de CE. Um marcador na pele pode ser usado para quanto ao ultrassom à beira do leito.
assinalar o objeto no eixo longitudinal e no eixo curto antes
da incisão. Além disto, uma agulha estéril também pode ser REFERÊNCIAS
usada, sendo esta introduzida sob orientação do ultrassom
em tempo real até que toque o CE. Então, a incisão e a
dissecação são realizadas ao redor da agulha e em direção 1. Rupert J, Honeycutt JD, Odom MR. Foreign Bodies
a ponta, onde o CE será encontrado. Em outra opção de in the Skin: Evaluation and Management. Am Fam
técnica, duas agulhas são usadas. A primeira é inserida Physician. 2020;101(12):740–7.
como descrito acima. Em seguida, ocorre a inserção da 2. Budhram GR, Schmunk JC. Bedside ultrasound aids
segunda guiada por ultrassom. Esta é introduzida fazendo identification and removal of cutaneous foreign bodies:
um ângulo de 90 graus em relação a primeira. 2 A case series. J Emerg Med [Internet]. 2014;47(2):1–
O CE deverá ser removido a partir do local em que estiver 6. Available from: http://dx.doi.org/10.1016/j.
mais próximo da superfície da pele, realizando um trajeto jemermed.2014.01.033
paralelo ao seu eixo longo. Isto deverá ser identificado e 3. Graham DD. Ultrasound in the emergency department:
marcado na pele do paciente. A incisão deve ser grande Detection of wooden foreign bodies in the soft tissues.
o suficiente para acomodar todo o corpo estranho, o J Emerg Med. 2002;22(1):75–9.
que será medido cuidadosamente utilizando ultrassom.
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Anestesia local é necessária durante o procedimento de 4. Rooks VJ, Shiels WE, Murakami JW. Soft tissue
retirada do CE. A injeção de lidocaína diretamente ao redor foreign bodies: A training manual for sonographic
do CE auxilia em alguns casos, visto que disseca o tecido diagnosis and guided removal. J Clin Ultrasound.
subcutâneo adjacente. 20 2020;48(6):330–6.
Em uma ferida puntiforme, injetar soro fisiológico sob 5. Halaas GW. Management of Foreign Bodies in the
pressão pode empurrar os contaminantes a fundo no Skin. 2007;
tecido. Posto isto, tal ação deve ser evitada. Agentes
antissépticos como peróxido de hidrogênio, clorexidina 6. Lammers RL. Soft tissue foreign bodies. Ann Emerg
e iodopovidine não devem ser aplicados diretamente à Med. 1988;17(12):1336–47.
ferida, dado que são tóxicos e retardam o processo de 7. Anderson MA, Newmeyer WL, Kilgore ES. Diagnosis
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cicatrização. Sob confirmação ultrassonográfica de que and treatment of retained foreign bodies in the hand.
o CE foi completamente removido com sucesso, a ferida Am J Surg. 1982;144(1):63–7.
é então irrigada com solução fisiológica e a pele pode ser
deixada aberta para cicatrizar por segunda intenção se 8. Bray PW, Mahoney JL, Campbell JP. Sensitivity and
houver sinais de contaminação. A lesão deve ser fechada specificity of ultrasound in the diagnosis of foreign
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se possível, pois mostrou ser associado a redução da dor bodies in the hand. J Hand Surg Am. 1995;20(4):661–6.
e tempo de cicatrização, com melhor resultado estético. 1
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