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Bezerra B.R. et al.
difícil. Com efeito, o ultrassom é capaz de detectar quase Tanto a madeira quanto o plástico são objetos com
todos os tipos de CE, independentemente da composição. melhor visualização por ultrassom do que por radiografia
A taxa de sensibilidade para detecção reportada é entre simples. Um estudo mostrou que o ultrassom foi
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94 e 98%. Vários estudos na literatura de Medicina capaz de detectar fragmentos de madeira de até 2,5mm
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de Emergência reportaram diferentes sensibilidade e com 87% de sensibilidade e 90% de especificidade.
especificidade para detecção de corpos estranhos por (Figura 1) Dependendo do tamanho e da densidade, eles
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emergencistas com auxílio da ultrassonografia. Em um podem gerar uma sombra acústica posterior que auxilia
estudo de médicos emergencistas sem formação em em sua localização. Os vidros e os metais geralmente
ultrassom, a sensibilidade e especificidade foram de 98% possuem artefatos de reverberação, e aparecem como
na detecção de CE em pedaços de carne. Outro estudo linhas hiperecoicas repetitivas profundamente ao objeto
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com plásticos e madeiras inseridas em pernas humanas (Figura 2). Itens metálicos arredondados ou pequenos
amputadas avaliadas por médicos emergencistas com tipicamente geram a “cauda de cometa”, um tipo específico
um ano de experiência em ultrassom e residentes sem de artefato de reverberação. Pode haver líquido inflamatório
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experiência em ultrassom mostrou sensibilidade de hipoecoico com coleção de fluido ao redor do CE, o que
77% e 70% respectivamente. A especificidade geral foi é chamado de sinal do halo. Ainda, isto pode representar
de 59% nesse estudo. Um estudo grande utilizando edema, abcesso ou tecido de granulação. Geralmente, o
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ultrassom à beira do leito na avaliação de 131 CE em 105 halo se desenvolve após 24h como resultado de resposta
pacientes pediátricos relatou uma sensibilidade de 67% inflamatória local, e auxilia na visualização do CE. 3
e especificidade de 96,6%. Uma meta-análise de 2015
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evidenciou sensibilidade de 96,7% e especificidade de
84,2% na detecção de materiais radiolucentes. É importante
destacar que a sensibilidade aumenta com maior tamanho
do CE. Portanto, o ultrassom à beira do leito oferece uma
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imagem em alta definição e é um exame mais barato que
a tomografia ou ressonância nuclear magnética, além de
ser de fácil acesso. Ainda, a ultrassonografia elimina o
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uso de radiação ionizante na localização do CE, o que é
especialmente benéfico na população pediátrica altamente
radiossensível. O ultrassom pode localizar o corpo
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estranho e identificar estruturas vasculares subjacentes, o
que auxilia no planejamento cirúrgico e facilita a remoção
do CE. Na prática clínica do médico emergencista, o
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ultrassom vem se tornando uma extensão ao exame físico. 4
Equipamento e técnica
A detecção do CE em nível subcutâneo deve ser
realizada utilizando transdutores com a maior resolução
disponível. A frequência de ondas de ultrassom são
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inversamente proporcionais ao comprimento de onda.
Quanto maior a frequência (baixo comprimento de onda),
melhor a resolução, enquanto baixas frequências (maior
comprimento de onda) permitirão uma maior penetração
nos tecidos, bem como viabilizarão a avaliação de
estruturas mais profundas. Geralmente, os CE são objetos
relativamente pequenos, o que torna necessário o uso de
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um probe de maior frequência. Transdutores lineares de
alta frequência (7-18MHz) são os mais úteis na detecção
de materiais radiopacos e não radiopacos, com tamanhos
entre 0,5 até mais de 10mm de dimensão transversa. 4 Figura 1: Corpo estranho de madeira apontado pela seta
branca, hiperecoico no ultrassom, com artefato de sombra
A maioria dos CE como a madeira, o plástico, o vidro e acústica posterior (seta amarela).
o metal são hiperecoicos quando vistos no ultrassom. Fonte: imagem autoral.
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