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Braga L.D.M. et al.


         Os pacientes com COVID-19 submetidos a procedimentos   Outro estudo de coorte com 41 pacientes cirúrgicos
         de urgência e emergência apresentaram risco aumentado   com COVID e 82 pacientes controle pareados sem
         de complicações graves. A razão de risco de morte para   COVID. Esse estudo concluiu que, sempre que possível,
         pacientes positivos para COVID-19 em comparação       o procedimento cirúrgico deve ser adiado em pacientes
         com pacientes negativos para COVID-19 foi de 55,00    com COVID-19, tendo em vista que a taxa de mortalidade
         para aqueles que foram submetidos a. A proporção      e de complicações cirúrgicas foram maiores em pacientes
         de complicações graves foi de 57,1% em pacientes      com COVID-19 quando comparada com pacientes sem
         positivos para COVID-19 em comparação com 14,3%       COVID-19. Dos 41 pacientes com COVID, 6 apresentavam
         na coorte negativa para COVID-19, enquanto a taxa de   oxigenação pobre na sua admissão, enquanto apenas 1 do
         mortalidade foi de 17,1% versus 5,7%, respectivamente.   grupo controle se encontrava na mesma condição. 5
         A COVID-19 representa um risco substancial para
         pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos       Ademais, em trabalho realizado em dois hospitais
         de urgência e emergência, estando associada a um      da cidade de Nova York em 2020, examinou-se o
         risco significativamente aumentado de morbidade e     desenvolvimento da COVID-19 em pacientes submetidos
         mortalidade perioperatórias graves. 4                 a cirurgias de urgência e emergência. Dos 36 pacientes
                                                               positivos para COVID, 17 se apresentaram sintomáticos
                                                               e 19 assintomáticos. Entretanto, o estudo não diferencia o
         FATORES  ASSOCIADOS  À  COVID-19  MAIS                desenvolvimento da doença entre pacientes sintomáticos
         RELACIONADOS COM MORBIMORTALIDADE                     e assintomáticos, tornando, assim, difícil a realização de

                                                               uma conclusão. 4
         Um estudo realizado em 2020 na cidade de Nova
         York analisou objetivamente o resultado de pacientes   COMPLICAÇÕES EM CIRURGIAS DE EMERGÊNCIA
         com teste para COVID-19 positivo submetidos a         NO TRATO GASTROINTESTINAL E HEPATOBILIARES
         procedimento cirúrgico. O número total de pacientes   NO CONTEXTO DO COVID-19
         cirúrgicos COVID-19 pré ou pós-operatório foi de 39.
         Vinte pacientes (51,3%) tinham evidência documentada   Desde o início do aumento do número de casos de
         de pelo menos um sintoma de COVID-19 no período       COVID-19 e da possibilidade de colapso do sistema
         pré-operatório, sendo tosse e febre objetiva foram as   público de saúde, sabe-se da necessidade de conservar
         mais citadas (n = 10, 25,6%) seguidas de falta de ar   recursos críticos , como leitos de enfermaria e de UTI,
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         em 5 indivíduos (12,8%). Os sintomas começaram em     salas de cirurgia, respiradores, capacidade de transfusão
         média 14 dias (intervalo 1-22) antes da cirurgia. No   e EPIs, elementos fundamentais para um adequado
         pós-operatório, sete pacientes precisaram de cuidados   funcionamento hospitalar, de modo que este possa
         na UTI com tempo médio de permanência de 7,7 dias.    fornecer segurança aos pacientes e aos funcionários.
         Além disso, houve quatro óbitos, todos entre pacientes
         com classificação ASA 3 ou 4. Dentre os quatro casos   Outro fator levado em consideração no que diz respeito à
         de óbitos, três pacientes apresentaram no pré-operatório   manutenção da realização de cirurgias de emergência para
         pneumonia no raio-X. Em síntese, o estudo concluiu que o   afecções do trato gastrointestinal é o risco de disseminação
         número de admissões na UTI e mortalidade são parecidas   do vírus, que pode ocorrer mesmo na sala de cirurgia , onde,
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         com os números citados na literatura para pacientes não   além das gotículas respiratórias e do contato próximo com o
         cirúrgicos com COVID-19. 17                           doente e suas secreções, surge outro meio de transmissão,
                                                               por conta da presença do vírus no pneumoperitônio.
         Um estudo retrospectivo chinês analisou o             Dessa forma, o aerossol liberado no centro cirúrgico pode
         desenvolvimento do SARS-CoV-2 em oito pacientes       contaminar tanto a equipe quanto o meio externo.
         submetidos à artroplastia articular de 19 de janeiro a 24
         de setembro de 2020. Desses pacientes, um apresentou   Um estudo demonstrou que o número de cirurgias
         febre; um apresentou tosse; um apresentou fadiga;     de emergência diminuiu 59,1% durante o período de
         nenhum apresentou dor de garganta; nenhum apresentou   pandemia. As maiores reduções observadas foram
         dispneia; nenhum apresentou dor no peito; nenhum      em hérnia encarcerada, apendicite não complicada e
         apresentou congestão nasal; nenhum apresentou dor     colecistite aguda. De acordo com outro trabalho , a
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         de cabeça; um apresentou tontura; nenhum apresentou   redução de cirurgias para hérnia inguinal encarcerada
         diarréria; nenhum apresentou dor abdominal; nenhum    se deve ao uso do procedimento de táxis (redução manual
         apresentou vômito; todos apresentaram atividade       da hérnia sob analgesia/sedação), que consiste em um
         limitada. Não houve óbitos. Em síntese, o estudo não   tratamento de primeira linha útil em situações em que a
         apresentou nenhuma correlação específica entre sintomas   disponibilidade cirúrgica se encontra momentaneamente
         e taxa de morbimortalidade. 18                        comprometida, a exemplo da pandemia de COVID-19.




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