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BRAZILIAN JOURNAL OF EMERGENCY MEDICINE   VOLUME 02 | NÚMERO 2 / 2-9


         Nesse estudo, a maioria das cirurgias foram de urgência   Neste estudo , 41 pacientes cirúrgicos com COVID-19 e 82
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         (56%), seguida de emergência (44%). Cerca de 70,7% dos   pacientes de controle bem pareados sem COVID-19 foram
         pacientes demonstraram complicações pós-operatórias,   comparados e diferenças significativas foram documentadas
         sendo as complicações pós-operatórias associadas mais   em relação às taxas de mortalidade precoce e complicações.
         frequentes foram insuficiência respiratória (36,0%),   Dentre elas, pneumonia e complicações trombóticas foram
         insuficiência renal aguda (22,7%) e SDRA (22,7%).     significativamente associadas ao COVID-19 e diferentes
         Dezessete pacientes necessitaram de amputação de      modelos identificaram o COVID-19 como a primeira
         membros inferiores (4,0% amputação menor e 17,3%      variável associada a complicações cirúrgicas.
         amputação maior). A taxa de mortalidade em 30 dias
         por todas as causas foi de 37,3%, apresentando uma    Dos 123 pacientes das coortes combinadas, a mortalidade
         sobrevida ruim. 16                                    em 30 dias foi significativamente maior para aqueles com
                                                               COVID-19 (8 pacientes vs 2 pacientes no grupo controle)
         Foi realizada uma revisão retrospectiva de todos os   em comparação com pacientes de controle sem COVID-19
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         pacientes COVID-19  que foram operados entre          (razão de chances [OR], 9,5; IC 95%, 1,77-96,53). As
          17 de fevereiro de 2020 e 26 de abril de 2020 em     complicações também foram significativamente maiores
          um grande hospital da cidade de Nova York. Quase     (OR, 4,98; IC 95%, 1,81-16,07), sendo as complicações
          todos os casos foram realizados por indicações de    pulmonares as mais comuns (OR, 35,62; IC 95%, 9,34-
         emergência ou urgência. A cirurgia geral e a ortopedia/  205,55), além das complicações trombóticas, que também
         cirurgia da mão foram responsáveis pelo tratamento das   foram significativamente associadas ao COVID-19 (OR,
         maiores porcentagens desses pacientes (n = 8, 20,5%),   13,2; IC 95%, 1,48-∞). Dos pacientes que apresentaram
         seguidas pela neurocirurgia, cirurgia vascular e cirurgia   complicações pulmonares antes da cirurgia, foram
         cardiotorácica/cardiologia intervencionista. No pós-  considerados apenas aqueles com piora da pneumonia
         operatório, 7 pacientes (17,9%) necessitaram de cuidados   após a cirurgia, não sendo considerados aqueles cujas
         em nível de UTI com tempo médio de permanência de     complicações pulmonares permaneceram inalteradas ou
         7,7 dias. Ocorreram 4 óbitos (10,3%) nesta população de   melhoraram. As complicações hemorrágicas, representadas
         pacientes, todos ocorridos em pacientes com classificação   principalmente pela necessidade de transfusão de sangue,
         ASA 3 ou 4. No geral, as taxas de admissão na UTI e   foram o segundo evento adverso pós-operatório mais
         mortalidade são semelhantes às taxas relatadas na     frequente, mas não houve diferença significativa em relação
         literatura para pacientes não cirúrgicos com COVID-19.   ao grupo controle (OR, 0,90; IC 95%, 0,38-2,09). Quatro
         Na conclusão imediata do procedimento, houve          complicações trombóticas foram registradas no grupo
         necessidade de suporte ventilatório em 2 indivíduos e   COVID-19; estes incluíram 1 trombose periférica no POD 4
         presença de hemopneumotórax em outro, enquanto em     e 3 tromboses arteriais no POD 1 após tromboembolectomia
         7 (17,9%) pacientes foram encontradas necessidades de   para isquemia aguda de membro inferior. As complicações
         ir para a UTI relacionadas à COVID que não estavam    cardíacas foram relativamente raras e associadas a
         presentes no pré-operatório, com tempo médio de       complicações pulmonares graves. As complicações
         permanência na UTI no pós-operatório de 7,7 dias.     neurológicas também foram raras e transitórias (por exemplo,
         Complicações graves do COVID-19 se desenvolveram      delírio) se os pacientes neurocirúrgicos fossem excluídos;
         em 10 pacientes (25,6%). Choque com necessidade de    nesta última subpopulação, a piora neurológica foi causada
         suporte farmacológico da pressão arterial e lesão renal   por ressangramento pós-operatório. Complicações locais
         aguda foi o mais comum, ocorrendo em 6 indivíduos     (por exemplo, infecção do sítio cirúrgico e deiscência)
         (15,4%). SDRA e infecção secundária também foram      foram relativamente raras e não diferiram do grupo controle.
         observadas em 5 pacientes. No entanto, como não houve   Os pacientes com COVID-19 foram aproximadamente
         a presença de um grupo controle de pacientes nas mesmas   13 vezes mais propensos a ter complicações do que os
         situações que precisaram passar por cirurgias eletivas,   controles, sendo a idade foi um fator significativo para
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         não há como encontrar uma conclusão satisfatória, sendo   complicações. Esses dados, de acordo com o estudo
         necessária a existência de estudos mais detalhados a   sugerem que, sempre que possível, a cirurgia deve ser
         cerca desse assunto. 17                               adiada em pacientes com COVID-19.

         Um estudo de coorte realizado na Itália  de fevereiro   Um estudo feito na cidade de Nova York de
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         a abril de 2020 analisou pacientes submetidos à       março a abril de 2020 avaliou a morbimortalidade
         cirurgia - 53,65% foram submetidos a procedimentos    perioperatória de pacientes com COVID-19
         ortopédicos, 17,1% a procedimentos vasculares, 14,6%   submetidos a cirurgias de urgência e emergência.
         neurológicos,12,2% geral, e 2,4% a cirurgias torácicas -   Entre 468 indivíduos, 36 confirmaram COVID-19,
         que tiveram resultados de teste positivos para COVID-19   sendo que quase metade dos casos de COVID-19 não
         antes ou dentro de 1 semana após a cirurgia.          foram identificados até após a intervenção cirúrgica.




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