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BRAZILIAN JOURNAL OF EMERGENCY MEDICINE VOLUME 02 / 24-33
cervical com estabilização manual da coluna, utilização aspectos, devendo ser individualizados de acordo com a
de bougie, videolaringoscópio (dependendo do grau de hemodinâmica dos pacientes. Etomidato e Quetamina são
treinamento e familiaridade do profissional que utiliza tais excelentes drogas no contexto do trauma, pois além de
dispositivos), utilização de aspiradores de ponta rígida como interferirem de forma mais amena na fisiologia dos pacientes,
no método SALAD (será detalhado mais adiante) no caso possuem propriedades analgésicas, atuam na redução
de VA contaminada ’ ’ , além de outras técnicas como do consumo cerebral de oxigênio, reduzem a pressão
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intubação de sequência atrasada ou awake intubation, que intracraniana. A capacidade do etomidato de preservar o
são métodos cada vez mais indispensáveis no manejo dos estado hemodinâmico o torna um agente excelente para
pacientes com VA fisiologicamente difícil. Dentre outras uso no trauma , ’ . A Quetamina é uma alternativa atraente
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etapas, um dos passos fundamentais é a garantia de uma no paciente com trauma hemodinamicamente instável. No
adequada oxigenação antes, durante e após procedimento passado, a Quetamina era em grande parte ignorada devido a
de intubação, sendo assim sugerido uma boa pré-oxigenação preocupações de aumento da PIC; porém, na verdade, ela é
(associado à oxigenação apneica) de forma que sua segura em pacientes com trauma e pode até reduzir a PIC ’ .
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manutenção interfere diretamente na mortalidade e desfecho
do paciente no departamento de emergência (DE) ’ ’ . O uso de bloqueadores neuromusculares (BNM), entre
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eles succinilcolina ou rocurônio devem ser uma rotina em
Diante do exposto, sugerimos que a equipe de trauma deve boa parte das IOT no atendimento às vítimas de trauma;
estabelecer planos de abordagem da via aérea, de forma claramente já comprovado que aumentam a taxa de
que sempre esteja preparada para possíveis complicações intubação em primeira tentativa (em média 81% com
em qualquer etapa do procedimento escolhido/mais BNM vs 60% sem BNM), o que influencia diretamente
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adequado para cada cenário na emergência (Figura 2). na mortalidade dos pacientes .
Técnicas Recomendadas para Manejo da Via Sequência Atrasada de Intubação (SAI)
Aérea no Trauma
Vítimas de trauma, de forma não rara, se apresentam no DE
Sequência Rápida de Intubação (SRI) evidenciando situações de hipoxemia persistente, além de
agitação psicomotora com períodos combativos, momentos
A SRI é a administração de um agente indutor potente os quais impedem uma adequada oxigenação para o manejo
seguido, imediatamente, de um bloqueador neuromuscular de intubação de forma segura. Nesses casos, buscamos utilizar
(BNM), isso acontecendo após a pré-oxigenação adequada o método de SAI para concentrarmos nossos esforços em
e otimização hemodinâmica do paciente, com objetivo maximizar a pré- oxigenação desses pacientes. Na técnica de
de causar inconsciência e paralisia motora para maior SAI, um agente de indução é administrado previamente, na
taxa de sucesso da intubação traqueal . A hipoxemia e a esperança de melhor acoplar o doente crítico ao método de
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hipotensão devem ser tratados agressivamente antes da SRI, pré-oxigenação escolhido. A droga mais utilizada atualmente
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pois episódios isolados de cada um desses alteram de forma é a Quetamina (dose de 1 mg/kg - endovenoso) ’ devido
assustadora a mortalidade dos pacientes críticos no DE . sua segurança em manter o estado hemodinâmico do
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Desse modo, a otimização hemodinâmica e clínica dos paciente, além de preservar drive respiratório e estímulos
pacientes é etapa fundamental na abordagem de uma VA compensatórios cardíacos. Em seguida, prosseguimos com
definitiva, por onde passam, por exemplo o início de drogas vários minutos de pré-oxigenação que podem ser feitos com
vasoativas, uso de hemocomponentes expansão volêmica dispositivos BVM, além de suporte com pressão positiva
com cristaloides e otimização de parâmetros ventilatórios, (BIPAP ou CPAP), mantendo pressões abaixo de 20 cm H2O, o
caso a situação exija tais feitos ’ . Deve-se manter com que mantém fechado o esfíncter esofagiano inferior, reduzindo
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essas medidas uma perfusão cerebral adequada, evitando as chances de broncoaspiração durante o procedimento.
possíveis agravamentos de lesões neurológicas presentes. Por fim, após objetivo atingido com boa pré-oxigenação,
seguimos os demais passos para a intubação orotraqueal,
A escolha de drogas para o procedimento de SRI deve ser cientes de que a fisiologia e o estado hemodinâmico do
individualizada. O uso de opioides que possam inibir a paciente deve ser preservado o máximo possível durante e
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resposta exacerbada da laringoscopia deve ser considerado após procedimento na emergência ’ .
na fase de otimização, por exemplo em casos de TCE grave
em que não podemos contribuir para aumento da pressão Awake Intubation
intracraniana (PIC) [ex: Fentanil, Alfentanil]. A inibição de
tal reflexo reduz o risco de taquicardia severa e/ou picos O método de intubação acordado envolve a passagem
pressóricos ocasionados pela manipulação da via aérea. do tubo endotraqueal em paciente que mantém sua
A escolha dos agentes hipnóticos, passam por vários
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