Page 34 - Rebrame - 2022 - Ed. 1
P. 34
BRAZILIAN JOURNAL OF EMERGENCY MEDICINE VOLUME 02 / 24-33
locais, entre outras lesões ameaçadoras à vida ’ . A de ressuscitação para manter o foco em alcançar melhores
26 27
intubação acordada se inicia sempre com preparação da resultados para o desfecho clínico dos pacientes, e não
equipe e material a ser utilizado durante o procedimento. a realização de procedimentos específicos. As falhas no
manejo da via aérea são responsáveis por 8-15% das
mortes por trauma potencialmente evitáveis ’ . Dentre as
34 35
principais metas de ressuscitação estão a manutenção de
ventilação e oxigenação adequadas. Manobras eficazes
são de importância fundamental para evitar e prevenir
hipoxemia, hiper ou hipocapnia, além de hipotensão,
situações que alteram negativamente a mortalidade das
vítimas de trauma ’ . O manejo de lesões com risco de
36 37
vida imediato deve ter prioridade sobre a inserção de
uma VA avançada. O tratamento do choque hemorrágico,
outras lesões ameaçadoras devem ser o foco no APH.
Os efeitos potencialmente prejudiciais da intubação
endotraqueal e a ventilação mecânica com pressão
positiva no paciente politraumatizado com choque
hemorrágico ou até mesmo choque obstrutivo incluem
redução do débito cardíaco, apneia, hipóxia e hipocapnia,
o que muitas vezes pode até prolongar o tempo de
Figura 3. paciente com limitação de abertura da boca, distor-
ções anatômicas, fraturas graves atendimento na cena, retardando o tratamento definitivo
37 39
Fonte: foto cedida pela profa. Dra. Rafaela Bayas – Emergen- de lesões ameaçadoras ’ . A menos que haja algum sinal
cista (IJF-CE). de obstrução da VA ou qualquer outra situação grave que
prejudique a adequada oxigenação/ventilação, devemos
Planos de resgate devem estar à disposição da equipe, sempre priorizar medidas não invasivas (manobras de abertura
prevendo possíveis complicações, nesse caso, em sua grande manual, uso de cânulas naso/orofaríngea, oxigênio
maioria, uma equipe preparada para abordagem da VA suplementar com dispositivos de alto fluxo) para atingir
cirúrgica. A pré-oxigenação, como já relatado previamente, tais metas, de forma que a reanimação hemodinâmica
é parte essencial do sucesso de qualquer manejo da VA no com hemocomponentes/resolução do choque deve estar
28
departamento de emergência . Muitos trabalhos mostram em primeiro lugar, desse modo reduzindo a alta taxa de
que o uso de oxigênio em dispositivos/terapias de alto fluxo incidência de hipotensão ou parada cardiorrespiratória
reduz drasticamente os episódios de dessaturação. Pacientes pós intubação endotraqueal ’ .
38 39
que realizam a técnica de intubação acordado com algum
tipo de sedação mínima ou até mesmo os que fazem apenas TRAUMA DE FACE
topicalização com anestésicos locais na VA devem utilizar
oxigênio suplementar durante todo o procedimento . O
29
processo de topicalização da VA tem a lidocaína como As lesões graves de face em pacientes vítimas de trauma
principal anestésico utilizado/recomendado, pois seu efeito são causas frequentes de atendimento no DE. O manejo
local apresenta baixas alterações cardiovasculares e possui de tais lesões, pode ser bastante desafiador (Figura 4). A
um perfil com reduzida toxicidade sistêmica ’ . A intubação possibilidade de sangramentos volumosos e a proximidade
30 31
acordado pode ser realizada sem sedação, porém seu uso com outras estruturas nobres (sistema nervoso central,
em doses mínimas pode melhorar a ansiedade, desconforto coluna cervical) trazem particularidades ao manejo
40
do paciente e a aumentar a tolerância ao procedimento. da via aérea . Além da possível perda de reflexos de
Atualmente, associação de Quetamina (0,5-1,0 mg/kg) e proteção da VA, o que aumenta o risco de aspiração,
Dexmetomidina (0,8-1,0 mcg/kg) em doses baixas tem tais situações vem acompanhadas de redução do nível
demonstrado efeitos satisfatórios na sedação mínima, de consciência por lesões de SNC ou intoxicação por
22 33
contribuindo para a taxa de sucesso de tal procedimento ’ . álcool/drogas; a presença de restos de partes moles, dentes
quebrados ou outros corpos estranhos fazem parte do
SITUAÇÕES ESPECIAIS cenário de atendimento a esses pacientes críticos. Deve-
se ter em mente que os traumas de face proporcionam
alta probabilidade da existência de uma VA ameaçada .
41
Via Aérea Avançada no Serviço Pré-hospitalar O manejo inicial parte da pesquisa de sinais de que
sugiram tais ameaças de forma precoce, como: presença
As decisões sobre o manejo das vias aéreas com trauma no de estridores, desvio de traqueia, grande quantidade de
APH devem ser direcionadas para atingir metas específicas vômitos e/ou sangue em cavidade oral. No mais, o método
29 | REBRAME | REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA DE EMERGÊNCIA