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Kélvio da Silva Lins
de escolha para obtenção de uma VA segura deve ser de VA contaminada com grande quantidade de sangue
individualizado, porém alertamos que os planos de resgate ou vômitos. Um método disponível, que deve ser
sempre devem estar à disposição de toda equipe no DE. reconhecido por todos os profissionais do DE é o SALAD
Nessas situações, é fundamental que os profissionais (suction-assisted laryngoscopy airway decontamination)
sejam treinados na realização de uma VA cirúrgica, pois que consiste nos seguintes passos: realize a laringoscopia
esse tipo de lesão traumática, em muitas situações, nos empurrando a língua para longe dos fluidos, introduza o
exige tal fato. aspirador ponta rígida até a porção inicial do esôfago e, em
seguida, mantenha-o à esquerda do laringoscópio, faça
aspiração conforme necessário, posicione corretamente
a lâmina na valécula e, por fim, realize intubação
endotraqueal . A escolha da abordagem é baseada na
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capacidade do paciente de manter sua via aérea pérvia,
ser cooperativo com a pré-oxigenação. Em situações
que necessitam de ação imediata (obstrução, hipoxemia
grave sem capacidade de oxigenação) devem exigir a
abordagem imediata por VA cirúrgica, podendo inclusive
utilizar- se de uma sedação leve com Quetamina, por
exemplo, para auxílio do procedimento imediato. Outra
opção, seria uma tentativa única de SRI, tendo como
resgate imediato a cricotireoidostomia cirúrgica. Em
pacientes que “permitem” uma programação, devido à
alta probabilidade de trismos, distorções da anatomia,
o que pode impossibilitar a realização de ventilações
de resgate, uso de DSG ou BVM, podemos realizar uma
abordagem por método de intubação acordado com
videolaringoscopia ou fibroscopia flexível, conforme já
citado previamente ’ .
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TRAUMA CERVICAL
As lesões de coluna cervical ocorrem em média em
2% dos pacientes vítimas de trauma, além de 6-8% dos
pacientes que apresentam lesões de face e/ou traumatismo
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cranioencefálico (TCE) . Apesar de uma incidência
relativamente baixa, o uso, muitas vezes, indiscriminado
do colar cervical, estabilização manual incorreta, além
da preocupação excessiva com essas lesões podem trazer
grandes problemas ao manejo da via aérea no departamento
de emergência. Apesar do reconhecimento de que lesões
cervicais podem evoluir com lesões neurológicas graves
em caso de movimentos excessivos da coluna, a limitação
de movimento da coluna cervical interfere diretamente
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no sucesso de obtenção de VA definitiva. Estudos
Figura 4: Trauma de face grave - objeto de madeira empalado em cadáveres demonstram que apesar da necessidade
na cavidade oral. de cautela, mesmo em pacientes com lesões cervicais
Fonte: Foto cedida pelo Prof. Dr Daniel Souza Lima (Cirur- conhecidas, a taxa de incidência de lesões neurológicas
gião do Trauma - IJF CE). secundárias com deterioração clínica se aproxima de
0,03%, sendo bem raro na maior parte dos casos. Estudos
De forma geral, todos os pacientes devem receber detalhados da angulação dos movimentos de extensão e
oxigenação adequada. A manipulação da coluna cervical flexão cervical demonstram que não existe um modelo
deve ter cuidado redobrado, pois a possibilidade de específico de lesão causada pela laringoscopia, não
deslocamento posterior da mandíbula aumenta as havendo até então evidências de que a laringoscopia direta
chances de comprometimento da VA . É recomendado pode ser a causa de lesões na medula cervical. Devido
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a presença de aspiradores de ponta rígida em situações o pouco movimento realizado com cabeça alinhada,
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