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BRAZILIAN JOURNAL OF EMERGENCY MEDICINE VOLUME 04 | NÚMERO 1 / 54-61
INTRODUÇÃO pandemia é que o tempo e a intensidade do trabalho
aumentaram, fazendo com que essas pessoas não tenham
A Medicina de Emergência, como especialidade, abrange qualidade de descanso e sejam propensas a estresse
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diagnóstico e tratamento dos pacientes que necessitam crônico e sofrimento psíquico .
de cuidados diante de situações agudas ou lesão que Ademais, existem outros fatores estressores no ambiente de
requeira atendimento imediato. A responsabilidade, trabalho dos profissionais da linha de frente da Covid-19:
muitas vezes estratégica, no atendimento às urgências e exaustão física e mental, dor da perda dos pacientes e
emergências dentro dos sistemas de saúde modernos gerou colegas, dificuldade na tomada de decisões, medo da
a necessidade da criação dos programas de especialização contaminação e da transmissão da doença, longas jornadas
em Medicina de Emergência em todo o mundo, iniciando de trabalho, falta de equipamentos de proteção individual
na década de 70 e em pleno crescimento até hoje.
(EPI), ampla cobertura da imprensa, baixo estoque de
No Brasil, o maior interesse pela Medicina de Emergência medicamentos e baixo apoio dos envolvidos na situação
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vem da década de 90, com vários grupos de apoio ao pandêmica .
reconhecimento da especialidade. Em 2013, o Conselho Frente ao exposto, o estudo dos fatores intervenientes que
Federal de Medicina reconheceu a especialidade e, em cercam o estresse no contexto de trabalho dos médicos, na
setembro de 2015, o Conselho Científico de Especialidades Medicina de Emergência, pode favorecer o entendimento
da Associação Médica Brasileira aprovou por unanimidade da crise vivenciada na estrutura e no gerenciamento das
a criação da especialidade .
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organizações de saúde neste cenário de pandemia. Assim,
Em um contexto de uma especialidade relativamente nova questionou-se: quais as variáveis intervenientes no nível
no País, mas com história já consolidada em outras partes de estresse de Médicos Emergencistas e residentes de
do mundo, surge a pandemia de Covid-19. A Medicina de Medicina de Emergência durante a pandemia de Covid-19?
Emergência, por estar na linha de frente no tratamento aos Nesse sentido, objetivou-se analisar o estresse no trabalho
infectados pelo Sars-Cov-2 e suas variantes, assumiu papel de Médicos Emergencistas na pandemia de Covid-19.
de extrema relevância não apenas na assistência direta
aos pacientes, mas na gestão dos serviços de emergência.
MÉTODO
Em 11 de março de 2020, a Covid-19 foi caracterizada
como pandemia pela Organização Mundial de Saúde Trata-se de estudo descritivo, com delineamento transversal
(OMS). Desde então, o mundo enfrenta desafios sem e abordagem quantitativa, em Fortaleza, Ceará, divulgado
precedentes. Ainda não se tem previsão sobre quando essa via Internet, através dos aplicativos e redes sociais:
doença deixará de ser uma pandemia. Dados publicados whatsapp, instagram e facebook envolvendo Médicos
pelo Ministério da Saúde (MS) mostram que tivemos Emergencistas e residentes de Medicina de Emergência
34.115.188 casos confirmados no Brasil até o dia 11 de vinculados a Departamentos de Emergência no contexto
novembro de 2022, com 688.656 mortes pela doença. No da pandemia de Covid-19. A coleta de dados aconteceu
mesmo período, ocorreram 1.387.542 casos no estado do entre maio e agosto de 2022.
Ceará, com 28.013 óbitos .
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A amostra foi formada por conveniência e atendeu aos
O impacto dessa pandemia é expressivo em vários âmbitos, seguintes critérios de inclusão: atuação em Departamentos
em especial, no setor saúde. Devido ao rápido crescimento de Emergência durante o período da pandemia de
do número de infectados pela Covid-19, incluindo Covid-19 por, pelo menos, seis meses. Foram excluídos
colegas de trabalho, e todo estresse e pressão a que estão médicos que estavam de férias ou afastados (licença saúde
submetidos os profissionais de saúde da linha de frente, a ou maternidade) no período de coleta de dados.
saúde mental deles tornou-se uma grande preocupação .
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Para coleta dos dados, foram utilizados dois instrumentos:
Profissionais de saúde da linha de frente, em especial questionário sociodemográfico/laboral, elaborado pelos
Médicos Emergencistas e residentes de Medicina de autores, construído no Formulário Google , contemplando
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Emergência, são pressionados a dar respostas e tomar as variáveis: idade, sexo, estado civil, cargo, tempo de
decisões que impactam diretamente na vida dos doentes, formação e de atividade no serviço, cursos de qualificação,
pois o Departamento de Emergência, além de ser porta de pós-graduação, quantidade de empregos, regime de
entrada, tem caráter imediato e demanda a concentração trabalho, vínculo empregatício e cargo de chefia.
de esforços para a resolução do problema-alvo .
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Outro instrumento foi a Escala de Estresse no Trabalho
Nesse contexto, estudiosos afirmaram que uma razão (EET), que reúne 23 itens que apresentam, no mesmo item
possível para altos níveis de estresse no trabalho nesta
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