Page 50 - REBRAME - Revista Brasileira de Medicina de Emergência
P. 50
RELATO DE CASO
BRAZILIAN JOURNAL OF EMERGENCY MEDICINE VOLUME 03 | NÚMERO 1 / 45-47 DOI: 10.5935/2764-1449.20230009
A importância da ultrassonografia a beira leito no
pré-hospitalar: relato de caso
Weverson de Abreu Lima
Médico Emergencista
Como citar este artigo: Lima W.A. A importância da ultrassonografia a beira leito no pré-hospitalar: relato de caso. Brazilian
Journal of Emergency Medicine 2023; 3(1): 45-47.
RELATO DE CASO da veia, o que dificultaria sua punção “às cegas”. Veias
femorais comum e superficial e veia poplítea esquerdas
Trata-se de uma paciente de 65 anos, sexo feminino, apresentavam bom fluxo ao doppler em cores e com boa
admitida em uma Unidade de Pronto-Atendimento compressibilidade, não denotando sinais de trombos na
(UPA 24h) de Fortaleza-CE por quadro de pielonefrite. região. Ao avaliar os vasos inguinofemorais à direita, local
A paciente já tinha uma doença renal crônica, mas sem de tentativas prévias de punção vascular, foi evidenciado
terapia dialítica até então. Durante sua permanência na que o lúmen venoso apresentava conteúdo heterogêneo,
unidade, necessitou realizar hemodiálise programada, hiperecoico, além de fluxo prejudicado visualizado no
com necessidade de implante de cateter duplo-lúmen para doppler em cores, denotando sinais de trombose venosa
realizar suas sessões. naquele sítio.
De acordo com o relatado no prontuário e pela equipe de Por maior probabilidade prevista de haver dificuldade
enfermagem, houve dificuldade na punção da veia femoral de punção em veia femoral esquerda pela disposição
direita, sendo o cateter implantado em veia jugular interna anatômica, pela contraindicação pela presença de
esquerda também com dificuldade. Iniciou então suas trombo em veias femorais direitas e pela presença de
sessões de hemodiálise. Porém, evidenciado que catéter cateter prévio em veia jugular interna esquerda, restavam
apresentava baixo fluxo, sem melhora com manobras os vasos subclávios e a veia jugular interna direita.
de reposicionamento. Além disso, paciente passou a Pela maior superficialidade dos vasos e menor risco
apresentar sangramento leve a moderado pelo orifício de de acidentes relacionados ao procedimento, avaliado
punção do cateter em região cervical esquerda. veia jugular interna direita e percebido vaso com bom
calibre, superficial e com bom fluxo ao doppler em cores.
Dois dias após o referindo procedimento e tais relatos, Realizada punção de veia jugular interna direita guiado
assumi o plantão e, ao avaliar a paciente, a mesma ainda por ultrassonografia pela técnica oblíqua. Realizado
apresentava sangramento pelo orifício de punção do implante de novo cateter de hemodiálise neste sítio sem
cateter. Além disso, apresentava leve dor e edema em intercorrências. Retirado cateter prévio em veia jugular
membro inferior direito, no qual havia sido tentado realizar interna esquerda e visualizado trombo em seu lúmen. Feito
punção de cateter de hemodiálise dois dias antes. compressão local e curativo com parada do sangramento
referido.
Com auxílio de aparelho de Ultrassonografia portátil,
decidi por fazer uma varredura nos principais vasos Com auxílio diagnóstico da ultrassonografia a beira leito,
cervicais e de membros inferiores, pois havia necessidade foi possível uma tomada de decisão mais rápida quanto
de troca de cateter para prosseguir com as sessões de ao manejo da trombose venosa, sendo iniciado seu
hemodiálise da paciente. No caso da paciente, havia o tratamento com anticoagulação parenteral e posterior
relato de dificuldade de punções anteriores, além de dor transição para oral. Como a paciente ainda ficou mais
e edema em membro inferior direito e sangramento no alguns dias na unidade aguardando leito hospitalar,
orifício de punção associado a baixo fluxo no cateter percebeu-se melhora e posterior resolução dos sintomas de
da veia jugular interna esquerda. Inicialmente, avaliei os dor e edema no membro inferior direito, além de evoluir
vasos inguinofemorais da paciente. À esquerda, em todo sem novas intercorrências até sua transferência para uma
o trajeto para possíveis punções, a artéria estava por cima unidade hospitalar para dar seguimento ao seu tratamento.
45 | REBRAME | REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA DE EMERGÊNCIA