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Uzuelli FHP
assistenciais no Brasil, em graus diferentes de governança O monitoramento dos desfechos permite a análise dos
e intensidade. custos e com isso a avaliação das seis dimensões da
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qualidade em saúde, segurança, efetividade, centralidade
Consideramos aqui que a implementação efetiva de no paciente, oportunidade, eficiência e equidade .
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protocolos clínicos passa por etapas conforme a maturidade
institucional. Temos SHE em estágios que vão desde a sua Para tanto é fundamental a presença de dados de qualidade
publicação, onde um grupo de profissionais produz um para que o monitoramento corresponda as correlações
material teórico e fluxos baseados em literatura e boas mínimas que precisam ser feitas, a informação oportuna e
práticas, passando pela implementação onde se controla o de fontes seguras são fundamentais para garantir as análises
registro regular de informações colhidas dos casos definidos de desfecho.
como sentinela para os agravos do protocolo, até o ponto
de entrega de fato, em que o protocolo é gerenciado, O cenário presente está marcado pela avalanche de
ou seja além do material teórico, há coleta regular de informação das mídias sociais. A urgência por evidências
informações e essas informações passam por um processo durante os dois últimos anos atropelou o método científico
de análise regular e orientam as tomadas de decisão da em uma corrida por respostas que por muitas vezes
instituição com foco na melhoria. trouxeram mais incertezas do que verdades. O fato novo
aqui é que nunca na história se produziu tanto dado em
Os estímulos no setor de saúde em especial nas unidades de saúde sobre um único tema em tão curto espaço de tempo
emergência é que determinaram as perspectivas no avanço na história .
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dessa cultura de processos. Hoje ainda predominam
os modelos de pagamento com foco quantitativo e não Porém, no Brasil a quantidade de publicações que
qualitativos que prioritariamente estão atrelados a modelos documentam desfechos através do gerenciamento ainda
de saúde baseado em valor. Ao passo que o desafio de é muito pequena para uma área que tem metas bem
financiamento no primeiro modelo torna-se cada dia definidas em linhas de cuidado muito prevalentes como
menos sustentável, os incentivos para o segundo cenário parada cardiorrespiratória, sepse, dor torácica e acidente
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ainda não são robustos o suficiente para uma mudança de vascular encefálico .
paradigma nas emergências brasileiras. O cenário nacional carece de uma organização em rede
Quanto as perspectivas para uma gestão por processos de atenção à saúde que permita o acompanhamento
nos SHE a certeza que existe hoje é da urgência de novos de escores como o de performance cerebral ou de
modelos e da incapacidade do modelo atual construir performance global pós parada cardíaca, por exemplo.
uma saída sustentável dentro do paradigma atual, assim O escore por categoria de performance cerebral é
sendo as mudanças não são mais uma questão de “se” conhecido como principal desfecho no atendimento
mas de quando.
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a parada cardiorrespiratória desde a década de 70 , e
[e acompanhado em países nos quais a Medicina de
Desfechos Emergência é praticada em alto nível .
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Após o acesso, a estruturação de processos é o grande passo Infelizmente com o atual ambiente de governança entre os
para a entrega de cuidado nas Unidades de assistenciais entes federados falta governança para esse avanço simples
de Emergência com qualidade e eficiência. Para que isso de monitoramento de um desfecho tão importante e já
seja feito, contudo é essencial monitorar o produto dessas conhecido. A cooperação e financiamento que envolve os
entregas, ou seja o desfecho o que de fato demostra que o diferentes atores em diferentes níveis na gestão da saúde
conjunto de ações fruto da intencionalidade e realizadas brasileira, capaz de ser implementar o ciclo de melhoria,
de maneira coordenada mudaram o curso da saúde da é um horizonte distante quando tratamentos de cobertura
população. universal.
Nosso maior desafio enquanto sociedade global para Conclusão
o controle de eventos de emergência até 2019 era o
Influenza, e ainda sim tínhamos uma imensa assimetria de O atendimento em medicina de emergência na imensa
informações entre os países e divergência no tratamento maioria das vezes exige uma atuação em rede e sincronizada
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com a terapia antiviral disponível . Esse cenário mudou entre diversos atores, que começam na atenção primária e
muito desde então, trazendo várias camadas de custo vão até os serviços de reabilitação, passando por serviços
que precisam como nunca de um monitoramento, caso pré hospitalares, salas de emergência, unidade de terapia
contrário podem comprometer a sustentabilidade dos intensiva, centro cirúrgico e leitos de retaguarda. Assim não
sistemas de saúde.
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