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BRAZILIAN JOURNAL OF EMERGENCY MEDICINE VOLUME 02 / 19-23
INTRODUÇÃO de intubação orotraqueal. Diante de serviço de saúde no
qual estava, no momento, sem disponibilidade de suporte
A pneumonia causada pelo novo coronavírus (COVID-19) para manter paciente em ventilação mecânica invasiva, foi
é motivo de grande preocupação mundial desde sua transferida para outra unidade no dia 31/03/21.
categorização como pandemia pela OMS, em março de Admitida na segunda unidade com relato de taquipneia
2020, tornando-se, desde então, uma das mais substanciais importante, sinais vitais: PA: 120 x 80 mmHg; SatO2 =
causas de mortalidade .
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78% (máscara de reservatório 10 L/min), FR = 48 irpm.
Alguns fatores podem aumentar o risco de complicações Iniciado ventilação mecânica não invasiva (VNI) intercalada
e evolução desfavorável, entre eles, a idade avançada, com oxigenioterapia com máscara de reservatório
histórico de Diabetes Mellitus tipo 2, Doença Pulmonar (MR), modificado antibioticoterapia para piperacilina-
Obstrutiva Crônica (DPOC), hipercolesterolemia, história tazobactam (D1 31/03/21), fez uso de ceftriaxone até D5,
de imunossupressão. A doença acomete inicialmente corticoterapia com dexametasona 20 mg/dia, profilaxia
o sistema respiratório, mas em fases mais avançadas, para tromboembolismo venoso (TEV) com enoxaparina
pode progredir com dano epitelial-endotelial, infiltração 40mg/dia. Os exames laboratoriais admissionais (31/03:
inflamatória e edema pulmonar com membranas hialinas, Hb: 12,9; Leuco: 12900; plaq: 96.000; Cr: 0,51; Ur: 25; Mg:
similares à Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo 2,61; PCR: 17,7; K: 4,9; Na: 134; PCR: 11,99; gasometria
(SDRA), bem como são comuns complicações trombóticas 31/03 (4:44): pH: 7,43; pCO2: 35; pO2: 39; BIC: 23,9; BE:
e sépticas, podendo levar à disfunção multiorgânica . 1,1; SO2: 75%).
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Dentre as possíveis complicações do COVID-19, Paciente foi transferida para o Hospital do Coração de
encontram-se pneumotórax (PTX) e pneumomediastino, Messejana (HM) no dia 03/04/21. No exame físico da
sendo postulados como indicadores de pior prognóstico . A admissão, encontrava-se em regular estado geral, acordada,
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incidência de PTX em pacientes com COVID-19 é estimada eupneica em MR a 15 L/min com SO2: 97%, ausculta
em cerca de 1%, havendo casos relatados tanto como uma pulmonar com creptos em ⅔ inferiores de ambos hemitórax.
apresentação aguda no Departamento de Emergência (DE), Os exames laboratoriais admissionais mostravam: 03/04
quanto após a internação, em especial após ventilação Hb:13,5; Leuco: 17200; plaq: 147.000; INR: 1,14; TTPA:
mecânica (VM) invasiva . 0,71; D-Dímero: 20,46 mcg/mL; Ur: 40; Cr: 0,41; TGO:
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21; TGP: 26; BT: 0,57; BD: 0,07; BI: 0,50; LDH: 890; PCR:
O pneumomediastino, também conhecido como enfisema 3,37; 03/04: pH: 7,43; pO2: 59; pCO2: 41; BIC: 26; BE: 2,6;
mediastinal é uma condição clínica rara , com incidência LACT: 2,3; SO2: 91% (MR 12 L/MIN); gasometria 03/04:
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estimada em 1/25000 entre pessoas de 5 e 34 anos, pH: 7,44; pCO2: 33,1; pO2: 73,6 (IOX: 210 em helmet);
acometendo mais comumente os homens (76%) . No BIC: 23; LACT: 1,65.
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contexto de COVID-19, pode estar relacionado tanto como
uma apresentação espontânea, também conhecida como Durante internamento no HM, foi transferida para
Síndrome de Hamman, quanto pelo barotrauma causado unidade de terapia intensiva, onde fez uso de capacete
por VM invasiva . de respiração assistida (Helmet), paciente com difícil
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aceitação por inquietação e ansiedade, com necessidade
de uso de sedação química com dexmedetomidina em
APRESENTAÇÃO DO CASO infusão contínua. Porém, no dia 04/04/21, evoluiu com
desconforto respiratório, com padrão de prensa abdominal,
Uma mulher de 36 anos de idade apresentou sintomas batimento de asa nasal e não-tolerância ao helmet.
iniciais de síndrome gripal com febre e coriza em Diante de falha terapêutica às medidas não invasivas,
16/03/21, realizou swab para COVID-19 detectável sinais de insuficiência respiratória, devido ao curso
em 17/03/21, tinha como comorbidades: sobrepeso, clínico desfavorável, foi realizada intubação orotraqueal
esferocitose hereditária (sem acompanhamento regular em sequência rápida (quetamina e succinilcolina) sob
com hematologia), ansiedade e história de gastroplastia visualização direta em primeira tentativa de laringoscopia
prévia. Negava diabetes, hipertensão arterial e demais sem intercorrências.
comorbidades.
Após o início de VM invasiva, apresentou assincronias
Por volta de 9 dias depois do início dos sintomas, frequentes, dificuldade de manter parâmetros VM
apresentou tosse seca, dispneia aos esforços habituais protetora, com necessidade de ajustes frequentes no
e procurou atendimento em uma Unidade de Pronto ventilador e de associar sedativos em altas doses e
Atendimento (UPA) no dia 25/03/21, onde foi internada, bloqueador neuromuscular (fez uso de midazolam,
iniciado antibioticoterapia com ceftriaxona, evoluiu com propofol, fentanil e pancurônio). Exame de imagem após
sinais de desconforto respiratório e risco de necessidade intubação orotraqueal, mostrava cânula endotraqueal bem-
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