Page 25 - Rebrame - 2022 - Ed. 1
P. 25

BRAZILIAN JOURNAL OF EMERGENCY MEDICINE   VOLUME 02  /  19-23

         INTRODUÇÃO                                            de intubação orotraqueal. Diante de serviço de saúde no
                                                               qual estava, no momento, sem disponibilidade de suporte
         A pneumonia causada pelo novo coronavírus (COVID-19)   para manter paciente em ventilação mecânica invasiva, foi
         é motivo de grande preocupação mundial desde sua      transferida para outra unidade no dia 31/03/21.
         categorização como pandemia pela OMS, em março de     Admitida na segunda unidade com relato de taquipneia
         2020, tornando-se, desde então, uma das mais substanciais   importante, sinais vitais: PA: 120 x 80 mmHg; SatO2 =
         causas de mortalidade  .
                             1
                                                               78% (máscara de reservatório 10 L/min), FR = 48 irpm.
         Alguns fatores podem aumentar o risco de complicações   Iniciado ventilação mecânica não invasiva (VNI) intercalada
         e evolução desfavorável, entre eles, a idade avançada,   com oxigenioterapia com máscara de reservatório
         histórico de Diabetes Mellitus tipo 2, Doença Pulmonar   (MR), modificado antibioticoterapia para piperacilina-
         Obstrutiva Crônica (DPOC), hipercolesterolemia, história   tazobactam (D1 31/03/21), fez uso de ceftriaxone até D5,
         de imunossupressão. A doença acomete inicialmente     corticoterapia com dexametasona 20 mg/dia, profilaxia
         o sistema respiratório, mas em fases mais avançadas,   para tromboembolismo venoso (TEV) com enoxaparina
         pode progredir com dano epitelial-endotelial, infiltração   40mg/dia. Os exames laboratoriais admissionais (31/03:
         inflamatória e edema pulmonar com membranas hialinas,   Hb: 12,9; Leuco: 12900; plaq: 96.000; Cr: 0,51; Ur: 25; Mg:
         similares à Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo   2,61; PCR: 17,7; K: 4,9; Na: 134; PCR: 11,99; gasometria
         (SDRA), bem como são comuns complicações trombóticas   31/03 (4:44): pH: 7,43; pCO2: 35; pO2: 39; BIC: 23,9; BE:
         e sépticas, podendo levar à disfunção multiorgânica  .  1,1; SO2: 75%).
                                                      2
         Dentre as possíveis complicações do COVID-19,         Paciente foi transferida para o Hospital do Coração de
         encontram-se pneumotórax (PTX) e pneumomediastino,    Messejana (HM) no dia 03/04/21. No exame físico da
         sendo postulados como indicadores de pior prognóstico  . A   admissão, encontrava-se em regular estado geral, acordada,
                                                       3
          incidência de PTX em pacientes com COVID-19 é estimada   eupneica em MR a 15 L/min com SO2: 97%, ausculta
          em cerca de 1%, havendo casos relatados tanto como uma   pulmonar com creptos em ⅔ inferiores de ambos hemitórax.
          apresentação aguda no Departamento de Emergência (DE),   Os exames laboratoriais admissionais mostravam: 03/04
          quanto após a internação, em especial após ventilação   Hb:13,5; Leuco: 17200; plaq: 147.000; INR: 1,14; TTPA:
          mecânica (VM) invasiva  .                            0,71; D-Dímero: 20,46 mcg/mL; Ur: 40; Cr: 0,41; TGO:
                              4
                                                               21; TGP: 26; BT: 0,57; BD: 0,07; BI: 0,50; LDH: 890; PCR:
         O pneumomediastino, também conhecido como enfisema    3,37; 03/04: pH: 7,43; pO2: 59; pCO2: 41; BIC: 26; BE: 2,6;
         mediastinal é uma condição clínica rara  , com incidência   LACT: 2,3; SO2: 91% (MR 12 L/MIN); gasometria 03/04:
                                           5
          estimada em 1/25000 entre pessoas de 5 e 34 anos,    pH: 7,44; pCO2: 33,1; pO2: 73,6 (IOX: 210 em helmet);
          acometendo mais comumente os homens (76%)  . No      BIC: 23; LACT: 1,65.
                                                     6
          contexto de COVID-19, pode estar relacionado tanto como
          uma apresentação espontânea, também conhecida como   Durante internamento no HM, foi transferida para
          Síndrome de Hamman, quanto pelo barotrauma causado   unidade de terapia intensiva, onde fez uso de capacete
          por VM invasiva  .                                   de respiração assistida (Helmet), paciente com difícil
                        6
                                                               aceitação por inquietação e ansiedade, com necessidade
                                                               de uso de sedação química com dexmedetomidina em
         APRESENTAÇÃO DO CASO                                  infusão contínua. Porém, no dia 04/04/21, evoluiu com
                                                               desconforto respiratório, com padrão de prensa abdominal,
         Uma mulher de 36 anos de idade apresentou sintomas    batimento de asa nasal e não-tolerância ao helmet.
         iniciais de síndrome gripal com febre e coriza em     Diante de falha terapêutica às medidas não invasivas,
         16/03/21, realizou swab para COVID-19 detectável      sinais de insuficiência respiratória, devido ao curso
         em 17/03/21, tinha como comorbidades: sobrepeso,      clínico desfavorável, foi realizada intubação orotraqueal
         esferocitose hereditária (sem acompanhamento regular   em sequência rápida (quetamina e succinilcolina) sob
         com hematologia), ansiedade e história de gastroplastia   visualização direta em primeira tentativa de laringoscopia
         prévia. Negava diabetes, hipertensão arterial e demais   sem intercorrências.
         comorbidades.
                                                               Após o início de VM invasiva, apresentou assincronias
         Por volta de 9 dias depois do início dos sintomas,    frequentes, dificuldade de manter parâmetros VM
         apresentou tosse seca, dispneia aos esforços habituais   protetora, com necessidade de ajustes frequentes no
         e procurou atendimento em uma Unidade de Pronto       ventilador e de associar sedativos em altas doses e
         Atendimento (UPA) no dia 25/03/21, onde foi internada,   bloqueador neuromuscular (fez uso de midazolam,
         iniciado antibioticoterapia com ceftriaxona, evoluiu com   propofol, fentanil e pancurônio). Exame de imagem após
         sinais de desconforto respiratório e risco de necessidade   intubação orotraqueal, mostrava cânula endotraqueal bem-



          20 |  REBRAME | REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA DE EMERGÊNCIA
   20   21   22   23   24   25   26   27   28   29   30