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BRAZILIAN JOURNAL OF EMERGENCY MEDICINE VOLUME 01 / 4-8
INTRODUÇÃO procedimento. Logo, quando o residente se sentirá seguro
para ter autonomia de tomada de algumas decisões?
Em 2015 a Medicina de Emergência (ME) foi reconhecida Desde os anos 2000 a simulação vem crescendo e sendo
como especialidade médica no Brasil e em 2016 foram incorporada nos programas de residência de medicina
abertos os primeiros programas oficiais de residência de emergência e terapia intensiva. Muitos estudos
médica na área. Desde então, tem-se discutido como deve têm contribuído, somando evidências do benefício
ser a formação deste profissional. Apesar desse recente da simulação para a formação dos emergencistas. O
reconhecimento da especialidade no Brasil, programas de benefício abarca variados cenários, como trabalho em
residência em ME já existem há décadas em outros países, unidade de terapia intensiva, treinamento focado em
como os Estados Unidos, ou mesmo países muito menos procedimentos de alto risco, abordagem ao trauma, à
populosos como Islândia (BALDURSSON et al., 2018).
parada cardiorrespiratória ou até o desempenho idealizado
Segundo a Matriz de Competências em Medicina de para trabalho em equipe. Além disso, as modalidades de
Emergência estabelecida pela Associação Brasileira de simulação podem variar, desde mais modestas instalações,
Medicina de Emergência (ABRAMEDE) são esperadas, para até ambientes e equipamentos com tecnologia de ponta
a formação do emergencista, diversas habilidades. Essas e alta fidelidade à realidade (OKUDA et al., 2008;
aptidões são contempladas por organizações internacionais, SCHROEDL et al., 2012).
como observado no documento da canadense Royal Medicina de emergência implica em tomada de decisões,
College, intitulado Entrustable Professional Activity (EPA) para isso o profissional deve estar apto a colher o maior
Guide para Medicina de Emergência, um guia com número de informações. Alguns elementos, em casos
orientações para atividade confiável do profissional dessa reais, nem sempre estão disponíveis em tempo hábil para
área (EMERGENCY MEDICINE SPECIALTY COMMITTEE, aprendizado na prática. Partindo-se dessa premissa, emerge
2017).
a necessidade de um mindset específico, contemplando
O Emergency Medicine Specialty Committee (2017) reforça protocolos assistenciais tempo-dependentes e de um
a formação dos emergencistas dentro de um programa treinamento passível de padronização e controle. Como
de residência baseado em matriz de competências e não possível solução, tem-se a realização de treinamento com
apenas no tempo de formação. Busca-se embasamento simulação em ME (DA SILVA, 2013; CHAKRAVARTHY et
em resultados e não apenas nos processos, indo além das al., 2011).
competências individuais para o trabalho que deve ser Para se atuar na emergência e executar tomada de
realizado. O guia EPA é um conjunto de competências decisões, exige-se treinamento de habilidades cognitivas
e habilidades desenvolvidas em níveis progressivos de (conhecimento), habilidades práticas e habilidades
complexidade até que se adquira a autonomia esperada comportamentais. Diferentes indivíduos podem demandar
pelo especialista.
um distinto número de procedimentos e experiências
Entre as aptidões preconizadas pelos documentos, como o para dominar essas aptidões, fazendo-se necessária a
guia EPA ou a matriz estabelecida pela ABRAMEDE, pode- possibilidade de se ter um ambiente de prática controlado.
se destacar habilidades cognitivas, habilidades técnicas e O que não se pode esperar de todos os serviços de
habilidades comportamentais a serem adquiridas ao longo assistência ao paciente. A simulação como recurso e
dos anos de residência. Pode-se enumerar mais de 120 metodologia de ensino vem se tornando uma importante
competências, entre manejo de patologias, procedimentos ferramenta para preencher essa lacuna (BINSTADT et al.,
e comportamentos a serem desenvolvidos durante o 2007; FRITZ et al., 2008).
programa de residência em ME (BOND et al., 2008;
EMERGENCY MEDICINE SPECIALTY COMMITTEE, 2017). SIMULAÇÃO COMO RECURSO DE APOIO NA
FORMAÇÃO
RATIONALE
De acordo com McLaughlin et al. (2008), a simulação
Estipulada a demanda em relação às habilidades esperadas é uma metodologia de ensino antiga, mas que vem se
do profissional especialista em ME, pergunta-se: será aperfeiçoando e crescendo ao longo dos anos. Desde a
possível, em todos os programas de residência, a aquisição década de 60 a Medicina de Emergência vem utilizando
dessas competências? Ao passar por um determinado essa ferramenta, seja durante treinamentos na graduação,
estágio, o residente pode ou não ser exposto a uma seja em programas de pós-graduação. Desde 1999 a
situação importante para sua formação. Nem sempre o Accreditation Council for Graduate Medical Education
residente terá a oportunidade de realizar determinado (ACGME) em parceria com o American Board of Medical
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