Page 7 - Rebrame - 2022 - Ed. 1
P. 7
IMAGEM COMENTADA
BRAZILIAN JOURNAL OF EMERGENCY MEDICINE VOLUME 02 / 2-4
Ultrassom beira leito da bainha do nervo óptico em
paciente com hipertensão intracraniana
Patrícia Lopes Gaspar 1
1 ECEM - Escola Cearense de Emergências Médicas, Residência de Medicina de Emergência - Fortaleza - CE - Brasil.
To cite this article: Gaspar P.L. Ultrassom beira leito da bainha do nervo óptico em paciente com hipertensão intracraniana.
Brazilian Journal of Emergency Medicine 2022; 2: 2-4.
CASO CLÍNICO hipertensão intracraniana. Muitas vezes a monitorização
invasiva da pressão intracraniana por meio de um cateter
Paciente do sexo masculino, 62 anos, diabético e não está disponível ou não está indicada, podendo-se
hipertenso, deu entrada no Departamento de Emergência utilizar o ultrassom como exame não invasivo, de curta
com queixa de cefaleia súbita e rebaixamento do sensório, curva de aprendizado, podendo ser realizado pelo médico
3 horas antes de sua chegada. Seus sinais vitais da assistente. A bainha do nervo óptico envolve um espaço
entrada mostravam hipertensão com PA 163x110 mmHg, que tem comunicação direta com espaço subaracnóideo,
taquicardia com FC 110 bpm, com boa saturação em ar havendo então a transmissão do aumento da pressão
ambiente de 97%, apesar do quadro de rebaixamento e intracraniana para essa região.
escala de coma de Glasgow de 10 (AO 3 RV 3 RM 4).
Poucos minutos após sua chegada, antes mesmo que fosse Esse estudo pode ser feito beira leito, com um transdutor
levado para realizar neuroimagem, paciente apresentou de alta frequência, tendo como exemplo o probe linear.
episódio de convulsão tônico-clônica generalizada, A estrutura a ser visualizada é a entrada do nervo óptico
ocasião na qual houve piora do rebaixamento. Foi no globo ocular, com sua respectiva bainha. Devemos
hidantalizado e intubado na sequência. Apesar das então obter uma imagem que mostre a distensão máxima
medidas para neutroproteção, paciente apresentou da bainha, com mensuração de seu diâmetro de 3mm
instabilidade hemodinâmica, com hipotensão de 92x57 posterior ao globo (Figura 3). Feito isso, traçamos uma
mmHg. Não havendo condições de transporte para linha reta usando o diâmetro transversal máximo da
realizar neuroimagem, foi realizado ultrassom beira leito bainha, atravessando o ponto final dos 3mm determinados
da bainha do nervo óptico, que mostrou aumento desta anteriormente (Figura 4).
com achado de 8,42 mm de dilatação, corroborando com a Nosso paciente em questão apresentou uma dilatação
hipótese de hipertensão intracraniana que ditava o quadro de 8,42 mm da bainha do nervo óptico, como podemos
clínico. Foram iniciadas medidas para aumento da pressão observar na Figura 4 acima.
intracraniana, assim como correção da hipotensão, com
posterior estabilização hemodinâmica. Realizou, então, Não existe um ponto de corte definido na literatura que
neuroimagem, com achado de volumosa hemorragia nos diga qual valor confirma hipertensão intracraniana
intraparenquimatosa centrada em núcleos da base à direita, ou indica cirurgia descompressiva. Alguns estudos
associada a hemoventrículo difuso e sinais de hipertensão apontam para valores abaixo de 5mm como dentro do
intracraniana (Figuras 1 e 2). Foi optado por neurocirurgia esperado, mas ainda não há consenso estabelecido.
manter conduta conservadora do quadro. Outros mostram que o ponto de corte acima de 6mm
praticamente confirma a presença de hipertensão
DIAGNÓSTICO intracraniana. Devemos sempre levar em conta os
recursos disponíveis no local, o quadro clínico do
Há muitos anos vem surgindo estudos acerca do aumento paciente e os valores comparativos do exame. 1–6
da bainha do nervo óptico como marcador não invasivo de
Correspondence to: Patrícia Lopes Gaspar
E-mail: patricialopesg90@gmail.com
2 | REBRAME | REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA DE EMERGÊNCIA