Seção - Imagem da Semana

Paciente 27 anos, vítima de projétil de arma de fogo em região torácica anterior. Paciente dessaturando em ar ambiente. Comente!

Resposta:

O parênquima pulmonar, por ser preenchido por ar, não é visível pelo ultrassom. No entanto, podemos visualizar a linha pleural, vista como uma estrutura linear hiperecogenica entre os espaços intercostais. O deslizamento pleural corresponde ao encontro da pleural visceral com a pleura parietal, com movimentos rítmicos desta linha de acordo com os ciclos respiratórios.

O contato entre as ondas ultrassonográficas e a interface gás-tecido gera reverberações horizontais da linha pleural chamadas de linhas A, que quando associadas à presença de deslizamento pleural, caracterizam o parênquima pulmonar normal ao US. No modo M ( modo onde podemos acompanhar o ‘’movimento’’ da imagem ao longo do tempo) podemos encontrar o ‘’sinal da praia’’, achado no qual visualizamos as estruturas da parede torácica na parte superior, sem movimento, seguidas lobo abaixo por padrão granular homogêneo, artefato do movimento respiratório.

Em um paciente vítima de projetil por arma de fogo em tórax anterior, com o referido achado na imagem, podemos concluir que:

- Paciente possui um pneumotórax, visto pelo modo bidimensional com achado de ‘’lung point’’, ou ponto pulmonar, correspondendo ao ponto de deslizamento pleural intermitente. O referido achado possui uma especificidade de praticamente 100% para pneumotórax. Podemos visualizar o ponto exato de transição em que o deslizamento deixa de ocorrer.

- No modo M, podemos visualizar a substituição do padrão granular para um padrão linear, também conhecido como ‘’sinal da estratosfera’’ ou sinal do ‘’codigo de barras’’, situação na qual visualizamos a ausência de artefato de movimento pelo deslizamento pleural.

Lembrar que em alguns pacientes com patologias como DPOC, enfisema subcutâneo, síndrome do desconforto respiratório agudo, broncoespasmo severo, aqueles em apneia, dentre outros, também podem não apresentar deslizamento pleural e não necessariamente ser considerado pneumotórax, caso não seja visualizado o lung point.


Referências: Ultrassom pulmonar em pacientes críticos: uma nova ferramenta diagnóstica.
J Bras Pneumol. 2012;38(2):246-256
Daniel Lichtenstein. Lung ultrasound in the critically ill. 2014.


por Patrícia Lopes Gaspar (Residente de Medicina de Emergência do Ceará)
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